ResumoO artigo analisa o ciclo de protestos de 2013 no Brasil, a partir de três questões: Como caracterizar este ciclo de protesto? Quais foram seus principais atores? Como foram produzidas as mudanças qualitativas observadas entre as diferentes fases do ciclo de protestos? O argumento central é que a ação contenciosa de movimentos sociais progressistas, que caracterizou a primeira fase do ciclo, foi identificada e interpretada por contramovimentos conservadores como uma oportunidade para sua própria mobilização. Esta apropriação parcial do ciclo de protestos pelos contramovimentos seria o mecanismo que produz a mudança qualitativa observada na segunda fase do ciclo. Neste processo de apropriação foram gestados e/ou fortalecidos atores, redes e recursos que tiveram centralidade na construção das mobilizações anti-Dilma em 2015 e 2016.
Abstract Between 2013 and 2014, peaking in June 2013, Porto Alegre was the stage for a set of protests characterized by heterogeneous claims, groups, and tactical interactions between police and protesters. Based on this case, this paper aims to analyze the way repertoire and strategies for policing demonstrations are maintained or transformed during a cycle of protests. Through an analysis of protest events on newspapers and interviews with police officers, we used the the relational perspective of contentious politics theory to identify four mechanisms that shaped the learning process of police forces during the cycle: the problematization of policing repertoire; the identification of alternatives; tactical experimentation; the incorporation of changes. These transformations resulted in the expansion of the use of police monitoring tactics, allied to the strategy of anticipating protesters' actions.
Resumo Entre 2013 e 2014, com o ápice em junho de 2013, Porto Alegre foi palco de um conjunto de protestos, caracterizados pela heterogeneidade de reivindicações, de grupos mobilizados e de interações táticas entre policiais e manifestantes. O objetivo deste artigo é analisar, com base nesse caso, como o repertório e as estratégias de policiamento de protestos mantêm-se ou transformam-se durante um ciclo de protestos. A investigação foi realizada por meio da análise de eventos de protesto em jornais e de entrevistas com agentes policiais. Sob a perspectiva relacional da teoria do confronto político, foram identificados quatro mecanismos que conformam o processo de aprendizagem vivenciado pelas forças policiais durante o ciclo: problematização do repertório de policiamento; identificação de alternativas; experimentação tática; incorporação das mudanças. As transformações resultaram na ampliação do uso de táticas policiais de monitoramento, combinada à estratégia de antecipação à ação dos manifestantes.
O objetivo deste artigo é analisar como se estrutura e se transforma o debate público sobre a política de drogas no Brasil entre os anos de 2003 e 2016. Para responder a essa problematização, foram analisados 306 materiais publicados no jornal Zero Hora. A análise demonstra que houve mudanças significativas na configuração do debate público sobre o "problema das drogas" no país na última década. Mais especificamente, é demonstrado que o debate público tende a ser mais heterogêneo, em termos de agentes e de enquadramentos, do que aquilo que se expressa na política de drogas vigente. Identificar e analisar essa heterogeneidade é importante para a compreensão das controvérsias e das posições em disputa sobre a política de drogas.
Resumo Ativistas de movimentos sociais enfrentam um dilema em suas atividades de enquadramento interpretativo. De acordo com parte da literatura, imperativos morais são obstáculos para o imperativo estratégico e tal dilema tem origem na tensão entre esses dois polos. Este trabalho tem dois objetivos: (1) questionar e propor alternativas para essa caracterização dicotômica do dilema do enquadramento interpretativo; e (2) compreender os processos que geram diferentes respostas a esse dilema. Para isso, foram entrevistadas lideranças de quatro organizações de direitos animais em Porto Alegre; uma liderança de uma organização de direitos animais de São Paulo; e ativistas e jornalistas envolvidos na produção de notícias e artigos selecionados para análise em profundidade. Os resultados apontam que imperativos estratégicos e morais se complementam e são gerados por teorias nativas sobre como a transformação social ocorre e são moldados por pressões interativas, gerando as diferentes respostas ao dilema do enquadramento.
Este artículo analiza las diferentes concepciones de democracia y desarrollo existentes entre diferentes actores que forman parte de un programa de ayuda al desarrollo, a partir del análisis de un programa de cooperación internacional llevado a cabo en Nicaragua, del que forman parte varios países europeos, ONG´s internacionales y organizaciones de sociedad civil locales. Considerando que estos actores tienen diferentes referencias, discursos y acciones en relación a lo que entienden por desarrollo y democracia, busco percibir cómo la relación entre ellos opera en la disputa por esos significados. Más allá de una vía sencilla de imposición de prácticas por parte de la cooperación, consideramos que hay una serie de mecanismos complejos a través de los cuales se asimilan lógicas de actuación. La discusión propuesta en este artículo se inserta en el debate sobre los mecanismos de actuación de las agencias de cooperación internacional y la ayuda para el desarrollo, y especialmente sobre el rol de estos en la conformación de un "orden global" basadas esencialmente en valores de democracia y desarrollo fuertemente marcados por un cuño liberal e institucional
A partir da análise da trajetória do Movimento Negro brasileiro na década de 1980, o presente artigo aborda como organizações e ativistas que formam o Movimento interpretaram e se apropriaram de distintas oportunidades políticas disponíveis em diferentes contextos político-institucionais. Argumenta-se que, a partir de suas capacidades, objetivos e estratégias, os atores da rede do Movimento Negro utilizaram diversos repertórios de ação na busca da transformação do quadro de profundas desigualdades raciais no país. Enfocando elementos como o tensionamento e o ativismo institucionais, sustenta-se que a identificada institucionalização de organizações e ativistas do Movimento no período pesquisado não significou necessariamente o abandono de formas de confrontação extrainstitucional. Ao contrário, a pesquisa realizada mostra complexas relações estabelecidas entre institucionalização e contestação na trajetória do Movimento Negro, que confrontam a tradicional contraposição destes dois processos na literatura de movimentos sociais.
Resumo Este artigo visa contribuir para a ampliação e a qualificação do campo de pesquisas sobre militantismo no Brasil, com a proposição de um modelo analítico que permita avançar na explicação dos processos de engajamento militante. Ou seja, o modelo proposto busca explicar as formas de ativismo sociopolítico que envolvem a atuação continuada ao longo de tempo em defesa de uma determinada causa, as quais tendem a expressar-se empiricamente por meio da identificação e da inserção organizativa. Para realizar esse objetivo, a argumentação desenvolvida funda-se em uma perspectiva realista, a fim de identificar quais são os mecanismos causais que conformam os processos de engajamento. A partir da revisão da literatura e de pesquisas empíricas, identificou-se quatro perspectivas existente para a explicação do engajamento militante: disposicional, identitária, relacional e retributiva. Articulando os argumentos explicativos destas perspectivas, é formulado o modelo causal proposto.
Este artículo analiza las diferentes concepciones de democracia y desarrollo existentes entre diferentes actores que forman parte de un programa de ayuda al desarrollo, a partir del análisis de un programa de cooperación internacional llevado a cabo en Nicaragua, del que forman parte varios países europeos, ONG´s internacionales y organizaciones de sociedad civil locales. Considerando que estos actores tienen diferentes referencias, discursos y acciones en relación a lo que entienden por desarrollo y democracia, busco percibir cómo la relación entre ellos opera en la disputa por esos significados. Más allá de una vía sencilla de imposición de prácticas por parte de la cooperación, consideramos que hay una serie de mecanismos complejos a través de los cuales se asimilan lógicas de actuación. La discusión propuesta en este artículo se inserta en el debate sobre los mecanismos de actuación de las agencias de cooperación internacional y la ayuda para el desarrollo, y especialmente sobre el rol de estos en la conformación de un "orden global" basadas esencialmente en valores de democracia y desarrollo fuertemente marcados por un cuño liberal e institucional. ; This paper analyzes the different conceptions of democracy and development held by distinct actors who participate in an international development program in Nicaragua, involving several European countries, international NGOs and local civil society organizations. The article seeks to understand how the relationship between these actors is crucial to an understanding of the dispute over these meanings. Rather than a simple imposition of practices by international aid agencies, we believe that there are a number of complex mechanisms through which specific logics of action are assimilated. The proposed discussion is part of the debate about the mechanisms of international aid agencies and development aid, and especially about their role in shaping a "global order" essentially anchored in values of democracy and development strongly marked by liberal and institutional values. ; Este artigo analisa as diferentes concepções de democracia e desenvolvimento existentes entre diferentes atores que são parte de um programa de ajuda para o desenvolvimento, a partir de um programa de cooperação internacional executado na Nicaragua por vários países europeus, ONGs internacionais e organizações de sociedade civil locais. Considerando que estes atores têm diferentes referências, discursos e ações sobre o que entendem por desenvolvimento e democracia, neste artigo buscamos entender como a relação entre eles opera na disputa sobre estes significados. Mais do que uma simples via de imposição de práticas por parte da cooperação, consideramos que existe uma série de complexos mecanismos através dos quais se assimilam lógicas de atuação. A discussão aqui proposta se insere no debate sobre os mecanismos das agências de cooperação internacional e ajuda para o desenvolvimento, e especialmente sobre seu papel em construir uma "ordem glogal" ancorada nos valores de democracia e desenvolvimento fortemente marcados por valores liberais e institucionais.
O objetivo deste artigo¹ é analisar como se estruturam as relações internas em uma cooperativa autogerida, a fim de identificar os fatores que possibilitam - ou bloqueiam - a instituição do modelo igualitário, proposto pela economia solidária. Partindo da hipótese de que a desigualdade em termos da distribuição de capital social tende a ser um importante fator explicativo da hierarquia nas posições ocupadas pelos participantes de empreendimentos econômicos populares, utiliza-se a análise de redes sociais como recurso metodológico para apreender as relações entre os membros da cooperativa pesquisada. As significativas assimetrias observadas nestas relações são explicadas, em grande medida, pela marcante concentração de capital social por uma das trabalhadoras, que, praticamente, monopoliza as relações da cooperativa com agentes externos em posições institucionais privilegiadas. O alto estoque de capital social concentrado por esta trabalhadora limita a possibilidade de instituição de relações igualitárias entre os membros da cooperativa pesquisada, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, constitui-se em um importante fator para o êxito econômico do empreendimento, ao possibilitar o acesso a recursos e a oportunidades fundamentais para tal êxito.